Sexualidade

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“IMPORTANTE! – O presente texto tem caráter meramente informativo. As classificações da sexualidade aqui descritas não são consideradas doenças e, portanto, não são passíveis de tratamento. Acredito que a luz da informação possa abrandar o sofrimento em algumas pessoas e familiares que convivem com minorias sexuais.”

 

Sexualidade, você sabe o que é?

 

A sexualidade manifesta-se em todas as fases da vida do ser humano e, ao contrário da conceituação vulgar, possui na genitália (pênis ou vagina) apenas um de seus aspectos, possivelmente nem o mais importante. A relação interpessoal, o contato com o outro, a proximidade e a troca afetiva certamente são valores muito importantes.

Como resultado do confronto entre o natural e a norma social imposta, grande parte das pessoas possui problemas relacionados com sua sexualidade. Leis, imposições sociais e culturais certamente concorrem para a existência desses problemas. Até há pouco, como exemplo, a homossexualidade era considerada como um crime nos Estados Unidos. Por pressão social passou a ser entendida como doença e, por fim, em 1973, a Associação Americana de Psiquiatria deixou de classificá-la como doença e a retirou da Classificação Internacional de Doenças (CID). Esse entendimento influenciou a própria Assembleia-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), a qual referendou essa compreensão em 1990.

Durante os séculos, mitos, superstições e crendices foram capazes de criar na mente das pessoas idéias mais horríveis sobre circunstâncias anatômicas e fisiológicas do aparelho genital e sobre a sexualidade. Exemplos:

  • A menstruação esteve associada com enorme número de superstições, por exemplo, se um cão vier a lamber o sangue menstrual, este tornar-se-á louco e sua mordida incuravelmente venenosa e as relações deveriam ser suspensas no período (mentrual);
  • A masturbação levava à queda da inteligência, alucinações noturnas, propensões suicidas ou homicidas;
  • Quanto maior o pênis de um homem, mais efetivamente ele iria satisfazer uma mulher;
  • Mulheres com seios pequenos seriam “ruins de cama”;
  • Atividade sexual excessiva causaria vários distúrbios, incluindo elefantíase, cegueira, inchaço das gengivas, mau hálito, pernas fracas, embranquecimento dos cabelos e calvície; todas as posições para o ato sexual, exceto a “papai-mamãe (a mulher deitada e o homem por cima) ”, eram consideradas perigosas (o coito realizado em pé levaria às convulsões e impediria a fecundação; sentados, ao delírio; no chão, a filhos fracos; outras posições inaceitáveis, à diarreia).

Outras correlações anatômicas estiveram ou ainda estão presentes na imaginação das populações. Por exemplo, a correlação entre o tamanho do pênis de um homem e o de seu nariz, pés ou mãos. No lado oposto, uma mulher cuja boca é grande possuiria vagina grande.

Hirschfeld (um judeu oriundo da cidade prussiana de Kolberg, atualmente chamada de Kolobrzeg e situada na Polônia), em 1897, na Alemanha (Berlim), fundou o primeiro grande centro científico para o estudo do sexo. Com a tomada do poder pelos nazistas, seu instituto foi destruído e sua biblioteca, composta por mais de 10.000 volumes, incendiada.

Enquanto isto, nos Estados Unidos, Alfred Kinsey, um entomologista e zoólogo norte-americano, em 1947, na Universidade de Indiana, fundou o Instituto de Pesquisa sobre Sexo, hoje chamado de Instituto Kinsey para Pesquisa sobre Sexo, Gênero e Reprodução. Suas pesquisas sobre sexualidade humana influenciaram profundamente os valores sociais e culturais dos Estados Unidos.

A publicação do primeiro volume do relatório sobre a sexualidade humana (Sexual Behavior in the Human Male), em 1948, originou enorme polêmica. O mesmo ocorreu com seu segundo relatório (1953), agora sobre as mulheres (Sexual Behavior in the Human Female), com efeito semelhante ao primeiro. A sociedade americana de então, chocada, tomou conhecimento de que 92% dos homens e 62% das mulheres se masturbavam, que 37% dos homens e 13% das mulheres já tinham tido uma relação homossexual que lhes tinha proporcionado um orgasmo.

De acordo com Kinsey, os seres humanos não se classificam quanto à sexualidade em apenas duas categorias (exclusivamente heterossexual e exclusivamente homossexual), mas apresentam diferentes graus de uma ou outra característica extrema. Resumidamente, seriam divididos nas seguintes subcategorias:

  1. Heterossexual exclusivo;
  2. Heterossexual ocasionalmente homossexual;
  3. Heterossexual mais do que ocasionalmente homossexual;
  4. Igualmente heterossexual e homossexual, também chamado de bissexual;
  5. Homossexual mais do que ocasionalmente heterossexual;
  6. Homossexual ocasionalmente heterossexual;
  7. Homossexual exclusivo; e
  8. Indiferente sexualmente.

Novas frentes se abrem no estudo sobre a sexualidade. Ao que parece, assim sempre acontece em relação ao ser humano em sociedade: superadas algumas arestas outras se tornam desafiadoras à nossa inteligência e perspicácia, como, por exemplo, de que maneira realizar a educação sexual/sentimental frente a esses desafios no presente e em futuro próximo. Como a sociedade segue sempre se modificando, não existem parâmetros, bulas ou receitas prontas a serem seguidos, tudo se transforma e novos contornos aparecem. O estudo sobre a sexualidade humana, mesmo depois de séculos de avanços e retrocessos, permanece um campo merecedor de atenção pela complexidade de situações derivadas do comportamento do ser humano enquanto composto por aspectos biológicos, psicológicos e sociais.

Nos muitos casos em que a sexualidade traz sofrimento ao indivíduo, uma avaliação psiquiátrica, bem como o acompanhamento adequado, ajudam a evitar que a pessoa busque refúgio em abuso de drogas ou atitudes que possam trazer risco a sua integridade física e mental.

A saúde é um direito fundamental do ser humano,
devendo o Estado prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício

(lei 8.080/90, em seu artigo 2º)